quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Trabalhos científicos sobre células-tronco resultam em Prêmio Nobel para pesquisadores


O Prêmio Nobel de Medicina de 2012 foi conferido nesta última segunda-feira (08 de outubro) em Estocolmo, na Suécia, a dois pesquisadores com estudos inovadores na área de conhecimento de células-tronco, o britânico John B. Gurdon e o japonês Shinya Yamanaka.
Os cientistas descobriram em seus trabalhos que células adultas podem ser “reprogramadas” para se tornar imaturas e pluripotentes (capazes de se especializar em qualquer órgão ou tecido corporal).

Foto de 2008 traz Yamanaka (à esquerda) e Gurdon em um evento sobre células-tronco: pesquisa resolve praticamente todos os problemas éticos que são motivados pelo uso de embriões para a obtenção de células-tronco.



Na natureza, todos os animais se desenvolvem a partir de óvulos fertilizados. Nos primeiros dias após a concepção, o embrião é formado por células imaturas, que acabam virando todo tipo de célula durante a formação e o amadurecimento do feto. Até esse momento do conhecimento científico, essa transformação era considerada unidirecional, sem possibilidade de volta. Entretanto os dois cientistas mudaram esse paradigma, conseguindo “atrasar o relógio” responsável pelo crescimento celular. Assim, comprovou-se que, apesar do genoma sofrer mudanças com o passar do tempo, essas alterações não são reversíveis como se acreditava até então.

Em 1962, Gurdon fez seu estudo com sapos, ao substituir o núcleo de uma célula imatura no óvulo de fêmeas pelo núcleo de uma célula madura do intestino de um girino. Esse óvulo modificado acabou se desenvolvendo em um girino normal, apesar de o DNA da célula madura conter toda a informação necessária para desenvolver cada uma das células do indivíduo. A descoberta de Gurdon foi recebida inicialmente com desconfiança pela comunidade científica, mas foi aceita após ser confirmada por outros pesquisadores, que conduziram experimentos com clonagem de vacas, porcos e a famosa ovelha Dolly.

Mais de 40 anos depois, em 2006, Shinya Yamanaka descobriu como células diferenciadas de ratos poderiam ser reprogramadas para se tornarem células indiferenciadas. Introduzindo nas células apenas alguns genes, Yamanaka reprogramou células adultas capazes de se tornarem em qualquer célula do organismo.


Células-tronco vistas por microscópio foram desenvolvidas no Japão a partir de fibroblastos, células adultas da pele (Foto: Reuters/Center for iPS Cell Research and Application, Kyoto University)


O impacto real da descoberta de reprogramação celular ainda está por vir. Pesquisadores já estão criando formas mais eficientes e seguras de reprogramar células adultas, e o sonho de regeneração usando transplante de células-tronco do próprio paciente fica a cada dia mais próximo. A técnica está sendo usada para modelagem de diversas doenças humanas e vai, com certeza, trazer novas oportunidades terapêuticas. Além disso, o uso menos convencional da reprogramação celular, como para a preservação de espécies em extinção ou estudos evolucionários, estão em andamento. E o emprego dessa técnica parece estar limitado apenas pela criatividade humana.

Segundo o comitê do Prêmio Nobel, "estas descobertas mudaram completamente a nossa visão do desenvolvimento e especialização celular": "Compreendemos agora que as células adultas não terão de estar para sempre confinadas ao seu estado especializado. Foram reescritos os livros de biologia, criados novos campos de investigação. Ao reprogramar as células humanas, os cientistas criaram novas oportunidades de estudo das doenças e desenvolveram novos métodos de diagnóstico e terapia". 

O Prêmio Nobel da Medicina é atribuído desde 1901 e esta é a 103ª vez que foi anunciado. Por nove vezes, não foi atribuído: em 1915, 1916, 1917, 1918, 1921, 1925, 1940, 1941 e 1942.

Para acessar o comunicado oficial do Comitê do Prêmio Nobel: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/2012/press.html