segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

::: Hipotireoidismo :::



O hipotireoidismo ganhou as manchetes de jornais e revistas há cerca de um ano, quando o jogador de futebol Ronaldo anunciou sua aposentadoria e atribuiu à doença o excesso de peso que vinha prejudicando sua atuação dentro de campo. A disfunção que acomete o jogador é frequente e atinge de 10% a 15% da população, sendo quatro vezes mais comum em mulheres.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia define o hipotireoidismo como o estado clínico resultante da quantidade insuficiente de hormônios circulantes na tireoide. Ou seja, a glândula, que tem o formato de uma borboleta e está localizada na base do pescoço, não produz quantidade suficiente dos hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). Eles são fundamentais para uma série de reações no corpo humano, sendo que a tiroxina tem a função de estimular o metabolismo das células do organismo.
Os sintomas variam e por vezes são confundidos com sinais de fadiga. No estágio inicial, por exemplo, a pessoa pode apresentar câimbras, dores de cabeça, unhas quebradiças, dificuldade para caminhar, inchaço, alteração menstrual e pele seca. “Esse quadro pode ser confundido com estresse ou com a menopausa. Por isso é importante realizar check-ups frequentes”, avalia o Dr. Ricardo Botticini Peres, endocrinologista do Einstein.
Curiosamente, o problema já foi chamado pelos médicos de síndrome da dona de casa cansada devido à incidência maior em mulheres e pelo seu sintoma mais marcante: a falta de disposição. Porém, apesar de ser mais frequente em pessoas do sexo feminino, os especialistas alertam que os homens não devem deixar de rastrear a doença. “A distinção hoje em dia não é tão clara. O hipotireoidismo deve ser investigado em ambos os sexos”, ressalta o endocrinologista Dr. Simão Lottenberg.
A disfunção é identificada a partir de avaliação clínica e também de um exame laboratorial que mede a quantidade de hormônio tireoestimulante (TSH) no sangue, cuja dosagem deve estar abaixo de 4,5 µg/mL ou 5 µg/mL, dependendo do método empregado. Caso necessário, a dosagem no sangue dos hormônios T3, T4 livre, T4 total e dos autoanticorpos tireoidianos, além de ultrassonografia da tireoide (a fim de constatar a presença de nódulos), também podem ser solicitados pelo médico.
Ao ser diagnosticado, o hipotireoidismo é classificado de duas formas: o primário e o secundário. O primeiro é o mais comum entre eles e equivale a 95% dos casos. É assim definido quando há problema de funcionamento da própria tireoide, que pode ser causado, por exemplo, pela tireoidite de Hashimoto – doença autoimune em que os próprios anticorpos do indivíduo atacam a glândula – ou pela remoção cirúrgica da tireoide.
A doença pode se apresentar de forma subclínica, quando é assintomática e branda. Neste caso, o tratamento ainda divide a opinião dos especialistas e é intensamente discutido entre os médicos. Parte defende o tratamento precoce, enquanto outros preferem observar a evolução do quadro, dada a possível estabilização sem a necessidade de medicamentos.Já o secundário (ou central) recebe esse nome quando o problema está no funcionamento inadequado da hipófise, glândula situada na base do cérebro e responsável por secretar o TSH, hormônio que regula o funcionamento da tireoide.
“Ainda é uma questão controversa. É preciso uma avaliação clínica bem feita porque pode ser um hipotireoidismo transitório, momentâneo. Se for isso, corre-se o risco de tratar o paciente sem que ele realmente precise. É prudente esperar e acompanhar uma possível evolução por meio de exames. É muito importante, nesses casos, uma boa avaliação para haver certeza do diagnóstico”, enfatiza o Dr. Simão.
É importante ressaltar, contudo, que o acompanhamento clínico da doença é importante em todos os casos para evitar a evolução, que pode desencadear quadros graves de depressão, inchaço no coração e coma. Em casos raros, pode, inclusive, levar à morte.
Independente do tipo de hipotireoidismo, o tratamento é simples, bastando a reposição hormonal em forma de comprimidos orais, que devem ser ingeridos diariamente em jejum. A dose varia de acordo com cada caso e deve ser acertada pelo médico. “O medicamento substitui perfeitamente o hormônio produzido pela tireoide e os efeitos colaterais são quase nulos”, avalia o Dr. Ricardo Peres.
Quem tem hipotireoidismo deve fazer o acompanhamento frequente da glândula. Os médicos aconselham três consultas anuais no início do tratamento e duas para quem já está com as doses de remédio reguladas.

Hipotireoidismo na gestação

Mulheres em idade fértil devem manter a atenção redobrada em seus níveis de TSH e realizar testes constantes para medir o volume do hormônio no sangue, para rastrear melhor a possível incidência do hipotireoidismo.
Para aquelas que pretendem engravidar, os médicos aconselham a realização do TSH como parte dos exames pré-natais, para identificar previamente alterações no funcionamento da glândula e, se for o caso, tratar a disfunção. Isso porque o hormônio tireoestimulante é extremamente importante para o bom desenvolvimento do feto.
“É preciso um volume maior de hormônio circulante porque a tireoide fetal se forma entre a 10º e 12ª semana de gestação e a produção do hormônio tireoidiano fetal inicia-se entre a 18º e 20ª semana. Então, nesse período é o hormônio da mãe que supre o bebê em formação”, explica o Dr. Ricardo Peres. “O hormônio é crítico para a maturação do sistema nervoso central do bebê”, completa o Dr. Simão.
Os especialistas ressaltam, ainda, que mulheres com hipotireoidismo devem tomar cuidado para só engravidar se estiverem realmente com os hormônios equilibrados. Além disso, devem consultar o endocrinonogista para que ele faça as alterações na quantidade de medicamento ingerido durante a gestação. A dose da grávida é, em média, 30% maior do que a da mulher não gestante.


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