Por Fernando Berlitz*
Certamente você deve estar
acompanhando o movimento pela não distribuição de forma gratuita das sacolas
plásticas descartáveis nos supermercados de São Paulo. Os supermercados
paulistas deixaram de distribuir as sacolas plásticas em 25 de janeiro, após
acordo firmado entre o governo de São Paulo e os estabelecimentos
comerciais. Com o fim da distribuição, os consumidores terão de optar
entre as sacolas retornáveis ou biocompostáveis (feitas de amido de milho),
vendidas nos estabelecimentos. A primeira opção, que pode ser usada várias
vezes, é apontada como preferencial. A ideia é contribuir para a diminuição de
um problema ambiental causado pelo descarte das 2,4 bilhões de sacolas
plásticas distribuídas todos os meses no estado.
Mesmo com o objetivo louvável de
reduzir o impacto ambiental, essa iniciativa tem sido alvo de inúmeras
críticas, inclusive de respeitáveis estudiosos no assunto. Um dos pontos de
maior controvérsia tem sido fomentado pelo questionamento referente ao impacto
sócio-ambiental das sacolas retornáveis, a priori entendidas como
ambientalmente sustentáveis. As argumentações mais consistentemente utilizadas
em contraponto ao uso das sacolas retornáveis têm sido a questão de sua origem
e nível de reutilização.
As sacolas retornáveis geralmente
são produzidas em países contra os quais restam alguns questionamentos quanto à
questão social, incluindo condições de trabalho, trabalho infantil, liberdade
de expressão e atenção aos direitos humanos. Como Sustentabilidade é entendida
como uma situação de equilíbrio entre as questões econômicas, sociais e
ambientais... restam dúvidas quanto a classificação dessas sacolas como
efetivamente sustentáveis.
Ainda, existem questionamentos
quanto ao nível de reutilização destas sacolas frente a sua composição. Tendo
em vista a sua composição e maior impacto teórico ao meio ambiente quando
descartadas, o ideal é que cada sacola tenha um ciclo de vida bem superior ao
das atuais sacolas descartáveis (que muitas vezes são reutilizadas também, ao
menos uma vez, como sacos de lixo comum). Assim, nos perguntamos: quantos
ciclos de utilização teremos para essas sacolas reutilizáveis? Será que, com
esse nível de reutilização, teremos adequado custo/benefício ambiental?
Adicionalmente, como iremos higienizar essas sacolas entre as utilizações,
visto seu uso para o transporte de alimentos, por exemplo? Qual o impacto
desses repetidos ciclos de higienização (uso de água, detergentes etc.) em
termos ambientais?
Podemos ver que a questão da
Sustentabilidade é complexa e qualquer visão simplista pode ser alvo de
inúmeras dúvidas e contestações. Isso ocorre mais frequentemente quando
esquecemos do princípio fundamental da Sustentabilidade, que é o Equilíbrio!
Segundo a definição clássica,
proposta pela ONU em 1987, Sustentabilidade seria o propósito de conseguirmos “Suprir
as necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das próximas
gerações de atender as suas próprias necessidades”. Por trás dessa definição encontramos a
essência fundamental da Sustentabilidade, que é o Equilíbrio. Como vamos consumir os recursos que dispomos
atualmente garantindo paralelamente que deixaremos os recursos necessários para
a próxima geração? Agindo com equilíbrio!
Como conseguir esse equilíbrio? Um dos melhores caminhos é pensar em como
gerenciamos os nossos recursos, como consumimos esses recursos. Para isso
podemos pensar em um raciocínio que geralmente é utilizado para a questão
ambiental, mas que pode ser extrapolado para a questão global da
Sustentabilidade, os 3R´s. O contexto dos 3R´s é composto pelas opções:
Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Embora seja o mais propagado na mídia, reciclar
é a última opção sempre, quando não podemos reduzir ou reutilizar... ou é uma opção complementar a esses
anteriores. O mais impactante para a Sustentabilidade é a questão do
Reduzir! Reduzindo, por exemplo, o consumo de um determinado item/material,
poderemos minimizar o seu impacto negativo, na maioria dos casos, tanto em
termos financeiro quanto sócio-ambiental.
Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado para as sacolas nos
supermercados. Por exemplo, um consumo consciente nos supermercados não seria
mais importante do que como iremos transportar os itens lá adquiridos? Os
produtos que lá adquirimos não têm suas próprias embalagens e irão gerar
resíduos correspondentes, impactando o meio ambiente? Não estamos consumindo e
gerando mais resíduos do que na década passada? Pois bem, aí talvez esteja um
impacto maior à sustentabilidade das próximas gerações do que o uso ou não de
sacolas retornáveis. Talvez reduzir a utilização das sacolas descartáveis,
utilizando esse recurso com consciência tenha maior impacto positivo nas questões
sócio-ambientais do que a utilização de sacolas retornáveis, se as últimas não
forem adequadamente utilizadas.
São questões a serem analisadas e incorporadas em nosso dia-a-dia. A
sustentabilidade é uma questão complexa, que deve ser avaliada de forma
sistêmica e não pontualmente. Sustentabilidade exige uma nova atitude, criar
novos paradigmas, transformar uma realidade que atualmente consome recursos sem
adequada racionalidade e consciência visando à preservação de qualidade de vida
das próximas gerações.
Mude a atitude, crie novos modelos de utilizar os recursos, pense no
futuro. Seja equilibrado e assim tenha a sustentabilidade impregnada nas suas
ações!
*Fernando Berlitz é Gestor de
Sustentabilidade, Processos e Melhoria Contínua do Grupo Ghanem