segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

::: DIVERSIDADE: QUESTÃO SOCIAL OU ESTRATÉGICA PARA AS ORGANIZAÇÕES? :::

Por Fernando Berlitz*

Muito se tem discutido sobre a questão da Diversidade Social e possíveis obstáculos a esta. Entretanto observamos com freqüência notícias e relatos referentes a reações de intolerância (étnica, religiosa, opção sexual etc.) existentes no cotidiano de nossas cidades e instituições. 

Como vivemos em um país amplamente miscigenado e teoricamente livre em termos culturais, podemos nos espantar com essa realidade ultrapassada e não condizente com o nosso atual momento de protagonismo econômico. Qual seria a origem desses “pré-conceitos” ainda presentes em nossa sociedade? Diversas teorias têm sido desenvolvidas e publicadas nesse sentido, sendo a maioria destas relacionadas a aspectos culturais da sociedade brasileira. 

Independentemente de qualquer maior aprofundamento na questão da intolerância à diversidade, o fato é que essa prática traz impactos negativos à sociedade como um todo, incluindo aspectos econômicos, afetando por vezes a competitividade da empresa no mercado em que atua.

A função primordial de qualquer organização é atender a uma necessidade, expressa formalmente ou não, de seus potenciais ou efetivos clientes. Para que isso seja possível, acessar e entender a “voz do cliente” é essencial visando o sucesso do negócio. Se estrategicamente o nosso negócio visa atender mais de um único nicho do mercado, mesmo que em segmentos específicos desse (seja o mesmo estratificado por questões geográficas, de classe econômica ou outros fatores), ficamos com a responsabilidade de compreender com profundidade as necessidades de vários grupos de clientes, identificando seus hábitos de vida, preferências e atitudes. Dessa maneira, podemos nos perguntar se as nossas empresas efetivamente estão prontas para identificar e atender efetivamente as necessidades dos clientes, entendendo que cada cliente é único e que para satisfazê-lo com eficácia deveríamos ser capazes de “nos colocar na posição do cliente”.  O mercado atual, de concorrência globalizada, exige maior inteligência competitiva das empresas na busca por atender, surpreender e fidelizar o cliente. A inteligência competitiva está em compreender com profundidade a “voz do cliente”, criando processos alinhados a estas necessidades e requisitos identificados junto aos clientes. Esse alinhamento entre processos e requisitos dos clientes é essencial para a fidelização dos clientes e sucesso do negócio.
Mas, como entender e satisfazer as necessidades dos clientes com eficácia se não tivermos em nossa organização uma pluralidade de pessoas e comportamentos semelhante ao de nossos clientes? Isto é, se não entendemos e praticamos a diversidade em nossas organizações, como podemos aprender comportamentos, emoções e preferências dos diferentes públicos-alvo de nosso negócio? Como os clientes poderão identificar essa nossa atenção e respeito à diversidade e entender que são “bem vindos” na nossa organização, ou seja, que eles são importantes para nós e que seremos capazes de atender as suas necessidades com a plenitude esperada?

Atualmente sabemos que a experiência de atendimento/serviço vivenciada pelos clientes é por vezes mais importante que a questão de qualidade e usabilidade do produto/serviço intrínseco oferecido pela organização. É essa experiência que vai atuar visando a fidelização do cliente com relação a nossa organização. Como iremos proporcionar uma experiência especial e customizada a cada novo cliente atendido pela nossa organização se não temos profissionais preparados para proporcionar essa experiência cativante? É evidente que, se não temos e cultivamos a diversidade social na nossa própria organização, provavelmente não teremos potencialmente sucesso nessa iniciativa... ou teremos que investir parte da nossa rentabilidade em capacitações e/ou programas que preparem o nosso corpo de profissionais para essa “cruzada” em busca da fidelização do cliente.

Será que devemos entender ainda a questão da Diversidade apenas como um compromisso social da empresa? Ou devemos entender a Diversidade como algo estrategicamente ligado ao sucesso do negócio?

Sustentabilidade é atitude, propósito e equilíbrio! 

Esse conceito se baseia em obter resultados harmônicos para as dimensões econômica, social e ambiental. Infelizmente, muitas vezes essas questões têm ainda sido entendidas nas organizações como um assunto paralelo às questões estratégicas do negócio, ou como uma questão de simples publicidade visando atrair aos clientes... e não para retê-los de forma eficaz.

O entendimento e prática da diversidade é uma luta difícil e por vezes complexa. E deve ser um objetivo estratégico das organizações. Tratar da questão da diversidade é lidar com mudança cultural, com mudança de hábitos e atitudes que estão impregnadas e bem sedimentadas ainda em nossa sociedade. 

Segundo Nelson Mandela, “Para odiar as pessoas precisam aprender”. Isto é, preconceito é uma questão de aprendizado. Não nascemos com esse conceito impregnado em nossa atitude. Aprendemos com família e com a sociedade em que vivemos. As empresas também. As organizações reproduzem esses comportamentos sociais, visto que a cultura organizacional é modelada pelos comportamentos existentes nesta. Para atender com eficácia aos nossos clientes precisamos “desaprender” preconceitos e nos apropriar culturalmente da prática da “diversidade social corporativa”.

A cultura de respeito e prática da diversidade deve ser um objetivo estratégico das organizações. Mais do que uma questão de “boas práticas” ou do entendimento do que é “politicamente correto”, a questão da diversidade está ligada ao sucesso do negócio. A diversidade é um passo importante visando a continuidade das organizações e tem igualmente impactos sociais evidentes.

Pensando dessa forma, podemos entender a questão da diversidade como um aspecto apenas social, isolado das questões de negócio? Provavelmente não. A sustentabilidade é um assunto estratégico, onde a atuação equilibrada da organização, com resultados obtidos de forma harmônica entre as dimensões econômica, social e ambiental, é essencial para a perpetuidade da organização e seu sucesso no mercado.
 
* Fernando Berlitz é Bioquímico, Gestor de Sustentabilidade do Grupo Ghanem