quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

::: A polêmica das sacolas plásticas descartáveis: você está de qual lado? :::


Por Fernando Berlitz*

Certamente você deve estar acompanhando o movimento pela não distribuição de forma gratuita das sacolas plásticas descartáveis nos supermercados de São Paulo. Os supermercados paulistas deixaram de distribuir as sacolas plásticas em 25 de janeiro, após acordo firmado entre o governo de São Paulo e os estabelecimentos comerciais. Com o fim da distribuição, os consumidores terão de optar entre as sacolas retornáveis ou biocompostáveis (feitas de amido de milho), vendidas nos estabelecimentos. A primeira opção, que pode ser usada várias vezes, é apontada como preferencial. A ideia é contribuir para a diminuição de um problema ambiental causado pelo descarte das 2,4 bilhões de sacolas plásticas distribuídas todos os meses no estado.

Mesmo com o objetivo louvável de reduzir o impacto ambiental, essa iniciativa tem sido alvo de inúmeras críticas, inclusive de respeitáveis estudiosos no assunto. Um dos pontos de maior controvérsia tem sido fomentado pelo questionamento referente ao impacto sócio-ambiental das sacolas retornáveis, a priori entendidas como ambientalmente sustentáveis. As argumentações mais consistentemente utilizadas em contraponto ao uso das sacolas retornáveis têm sido a questão de sua origem e nível de reutilização.

As sacolas retornáveis geralmente são produzidas em países contra os quais restam alguns questionamentos quanto à questão social, incluindo condições de trabalho, trabalho infantil, liberdade de expressão e atenção aos direitos humanos. Como Sustentabilidade é entendida como uma situação de equilíbrio entre as questões econômicas, sociais e ambientais... restam dúvidas quanto a classificação dessas sacolas como efetivamente sustentáveis.

Ainda, existem questionamentos quanto ao nível de reutilização destas sacolas frente a sua composição. Tendo em vista a sua composição e maior impacto teórico ao meio ambiente quando descartadas, o ideal é que cada sacola tenha um ciclo de vida bem superior ao das atuais sacolas descartáveis (que muitas vezes são reutilizadas também, ao menos uma vez, como sacos de lixo comum). Assim, nos perguntamos: quantos ciclos de utilização teremos para essas sacolas reutilizáveis? Será que, com esse nível de reutilização, teremos adequado custo/benefício ambiental? Adicionalmente, como iremos higienizar essas sacolas entre as utilizações, visto seu uso para o transporte de alimentos, por exemplo? Qual o impacto desses repetidos ciclos de higienização (uso de água, detergentes etc.) em termos ambientais?

Podemos ver que a questão da Sustentabilidade é complexa e qualquer visão simplista pode ser alvo de inúmeras dúvidas e contestações. Isso ocorre mais frequentemente quando esquecemos do princípio fundamental da Sustentabilidade, que é o Equilíbrio!

Segundo a definição clássica, proposta pela ONU em 1987, Sustentabilidade seria o propósito de conseguirmos “Suprir as necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das próximas gerações de atender as suas próprias necessidades”. Por trás dessa definição encontramos a essência fundamental da Sustentabilidade, que é o Equilíbrio. Como vamos consumir os recursos que dispomos atualmente garantindo paralelamente que deixaremos os recursos necessários para a próxima geração? Agindo com equilíbrio!

Como conseguir esse equilíbrio? Um dos melhores caminhos é pensar em como gerenciamos os nossos recursos, como consumimos esses recursos. Para isso podemos pensar em um raciocínio que geralmente é utilizado para a questão ambiental, mas que pode ser extrapolado para a questão global da Sustentabilidade, os 3R´s. O contexto dos 3R´s é composto pelas opções: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Embora seja o mais propagado na mídia, reciclar é a última opção sempre, quando não podemos reduzir ou reutilizar...  ou é uma opção complementar a esses anteriores. O mais impactante para a Sustentabilidade é a questão do Reduzir! Reduzindo, por exemplo, o consumo de um determinado item/material, poderemos minimizar o seu impacto negativo, na maioria dos casos, tanto em termos financeiro quanto sócio-ambiental.

Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado para as sacolas nos supermercados. Por exemplo, um consumo consciente nos supermercados não seria mais importante do que como iremos transportar os itens lá adquiridos? Os produtos que lá adquirimos não têm suas próprias embalagens e irão gerar resíduos correspondentes, impactando o meio ambiente? Não estamos consumindo e gerando mais resíduos do que na década passada? Pois bem, aí talvez esteja um impacto maior à sustentabilidade das próximas gerações do que o uso ou não de sacolas retornáveis. Talvez reduzir a utilização das sacolas descartáveis, utilizando esse recurso com consciência tenha maior impacto positivo nas questões sócio-ambientais do que a utilização de sacolas retornáveis, se as últimas não forem adequadamente utilizadas.

São questões a serem analisadas e incorporadas em nosso dia-a-dia. A sustentabilidade é uma questão complexa, que deve ser avaliada de forma sistêmica e não pontualmente. Sustentabilidade exige uma nova atitude, criar novos paradigmas, transformar uma realidade que atualmente consome recursos sem adequada racionalidade e consciência visando à preservação de qualidade de vida das próximas gerações.

Mude a atitude, crie novos modelos de utilizar os recursos, pense no futuro. Seja equilibrado e assim tenha a sustentabilidade impregnada nas suas ações!
 *Fernando Berlitz é Gestor de Sustentabilidade, Processos e Melhoria Contínua do Grupo Ghanem


Nenhum comentário:

Postar um comentário